NR-1: apenas uma regulamentação ou um convite à mudança?

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Falar sobre segurança no trabalho sempre nos remete a capacetes, EPIs e normas de proteção física. Porém, quando falamos em segurança emocional e mental, por muito tempo, isso ficou fora da equação. 

Agora, com as atualizações da NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), essa conversa mudou: as empresas precisarão avaliar e atuar sobre riscos psicossociais, ou seja, tudo aquilo que impacta a saúde mental dos trabalhadores.

Afinal, o que adianta ter um ambiente seguro fisicamente, mas que adoece as pessoas emocionalmente?

O trabalho como espaço de construção ou exaustão?

Sempre enxergamos o trabalho como um espaço de esforço e produtividade. Mas ele também pode (e deve!) ser um espaço de realização, crescimento e troca.

O problema é quando o ambiente se torna tóxico, sobrecarregado ou sufocante, e as pessoas começam a sentir que trabalhar virou sinônimo de exaustão.

Se antes falávamos apenas de acidentes de trabalho visíveis, hoje sabemos que os danos emocionais são tão sérios quanto os físicos.

Assédio moral, metas inalcançáveis, sobrecarga e falta de reconhecimento são fatores que geram ansiedade, burnout e, muitas vezes, afastamentos. Contudo, com a NR-1 atualizada, as empresas precisarão mapear esses problemas e agir antes que os impactos cheguem ao extremo.

A atualização da NR-1 e a nova responsabilidade das empresas

A partir de maio de 2025, todas as empresas precisarão avaliar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho.

Essa medida significa que a saúde mental não pode mais ser tratada como um problema individual do funcionário, mas sim como uma responsabilidade organizacional.

Isso muda muita coisa na forma como o trabalho é pensado. Se antes a lógica era “se o funcionário não aguenta a pressão, ele que se cuide”, agora a mentalidade precisa ser “como criamos um ambiente em que as pessoas possam entregar seu melhor sem se esgotar?”.

Para se adequar à nova NR-1 as organizações precisarão:

  • Identificar riscos psicossociais
  • Desenvolver um plano de ação para prevenir e mitigar esses riscos
  • Implementar programas de apoio psicológico
  • Promover a qualidade de vida dos funcionários
  • Monitorar os níveis de estresse e bem-estar
  • Receber feedbacks e ajustar as estratégias

Na prática ainda não temos direcionamentos muito claros sobre esse levantamento de riscos. Entretanto, algumas perguntas importantes já podem ser feitas, como: 

  • As metas impostas são realistas ou estão gerando estresse desnecessário?
  • Há espaço para feedbacks sinceros ou a cultura do medo predomina?
  • Os líderes são preparados para lidar com pessoas ou só cobram resultados?
  • A equipe tem suporte emocional ou as pessoas precisam “se virar sozinhas”?

Se não houver mudanças concretas, os impactos aparecem em forma de absenteísmo, baixa produtividade e pedidos de demissão em massa.

Como anda a saúde mental no trabalho?

Alexandre Pellaes, pesquisador, referência no futuro do trabalho e fundador da Exboss, sempre bate na tecla de que o trabalho deve ser um espaço de construção de significado, não de adoecimento

Em suas palestras e estudos, ele ressalta que muitas empresas ainda veem a saúde mental como um tema secundário, quando, na verdade, ela impacta diretamente nos resultados.

Alexandre costuma destacar, em eventos como CONARH, que a saúde mental tem sido um dos temas mais debatidos nas últimas edições, comprovando que o mercado finalmente entendeu que cuidar das pessoas não é só “mimo”, mas sim estratégia.

Outro ponto que o pesquisador sempre traz é que o impacto da cultura organizacional na saúde mental vai muito além do que se vê na superfície. Pequenas atitudes, como micro agressões, desvalorização do trabalho e falta de empatia por parte da liderança, podem desgastar emocionalmente qualquer profissional.

Para onde estamos caminhando?

Diante de tudo isso, algumas perguntas acabam surgindo: será que estamos, de fato, caminhando para um trabalho mais saudável e sustentável? Ou só estamos maquiando velhos problemas com novas exigências?

A recente atualização da NR-1 não deveria ser vista apenas como mais uma obrigação legal ou uma linha a ser riscada no checklist do RH. Essa mudança, na verdade, é um convite — talvez um dos mais urgentes — para que empresas repensem suas estruturas, suas dinâmicas de poder e, principalmente, o impacto que causam na vida das pessoas.

Preencher formulário e aplicar avaliação de risco é fácil. Difícil mesmo é encarar a transformação cultural necessária para criar ambientes de trabalho que não adoeçam, não silenciem, não invisibilizem. Ambientes que acolham, que respeitem e que se responsabilizem pelo bem-estar real — não só pelo discurso.

A reflexão que fica é: sua organização está interessada genuinamente na saúde mental das pessoas ou só quer garantir que não vá ter problema jurídico lá na frente?

Afinal, segurança no trabalho não é só sobre evitar quedas ou proteger o corpo. É sobre proteger também aquilo que não se vê nos exames admissionais: o emocional, o psicológico, o sentido de pertencimento.

Trabalho saudável não é utopia. É um compromisso. E está na hora de parar de terceirizar esse cuidado só para o plano de saúde e começar a construir isso no dia a dia, na cultura, nas conversas e nas decisões de quem lidera.

A Exboss

As soluções Exboss compartilham as pesquisas e estudos de Alexandre Pellaes, pesquisador e professor, especialista em novos modelos de gestão, RH, liderança e futuro do trabalho. Nosso objetivo é apoiar organizações e pessoas na transformação do mundo do trabalho através de praticas, cursos, ferramentas e conteúdos de treinamento e desenvolvimento.