Você sabia que cargos de liderança não são mais o objetivo de todos os profissionais que desejam sucesso profissional?
Em um estudo da agência de recrutamento Randstad, cerca de 40% das pessoas entrevistadas dispensariam uma promoção por entenderem que esses cargos muitas vezes podem vir com custos que não condizem com suas aspirações de vida ou propósitos pessoais.
Essa mudança reflete um desejo por uma carreira que não apenas traga status, mas que também esteja alinhada com o bem-estar pessoal e valores mais profundos.
No mundo corporativo atual, esse fenômeno tem sido entendido com o nome de “quiet ambition” e está reformulando a forma com que profissionais e empresas enxergam ambições profissionais e os caminhos de progressão de carreira.
Hoje vamos explorar com mais profundidade as razões por trás da ascensão dessa tendência e discutir o que as empresas podem fazer para adaptar suas estratégias e manter uma força de trabalho engajada nesse novo cenário. Acompanhe!
Mas o que é quiet ambition, afinal?
Quiet ambition ou ambição silenciosa é uma tendência emergente no mundo do trabalho, especialmente popular entre a geração Z, mas que não se limita a esse recorte.
Como pontuado por Alexandre Pellaes, fundador da Exboss, em um dos seus vídeos sobre as tendências do mercado de trabalho atual :
“Mudou o espírito do tempo do trabalho, o que a gente vai buscar por meio do trabalho e isso não depende de geração.”
Alexandre Pellaes
Portanto, esse conceito reflete uma mudança significativa na maneira como os profissionais atualmente veem o sucesso e a progressão de carreira, independentemente da idade.
Se antes era comum que cargos de liderança fossem um indicativo de sucesso, há um crescente número de profissionais que tende a valorizar mais o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, bem-estar e saúde mental.
Assim, muitos jovens estão rejeitando o modelo tradicional de ascensão corporativa, que geralmente exige longas horas e grande estresse, optando por um caminho que ofereça qualidade de vida e satisfação pessoal.
A “ambição silenciosa” não significa falta de ambição, ao contrário, redefine a ambição como o desejo de uma vida profissional que seja verdadeiramente enriquecedora e alinhada com valores pessoais mais profundos.
O que gerou essa tendência?
O conceito de quiet ambition surgiu como uma resposta às mudanças nas atitudes dos novos profissionais em relação ao trabalho e ao sucesso profissional.
Essas mudanças foram influenciadas por vários fatores:
- Experiências observadas: muitos jovens cresceram observando seus pais trabalhando em ambientes muitas vezes estressantes e excessivamente exigentes. A percepção das jornadas de trabalho extenuantes e das consequências de um ambiente corporativo tóxico fez com que muitos questionassem o valor de seguir o mesmo caminho.
- Ênfase na saúde mental: a crescente consciência sobre a importância da saúde mental e do bem-estar geral também desempenhou um papel crucial. A geração Z, mais do que as anteriores, valoriza o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e está mais disposta a rejeitar modelos de trabalho que comprometem esse equilíbrio.
- Visão crítica sobre liderança tradicional: há uma percepção crescente de que os cargos de liderança frequentemente vêm com um custo muito alto, como longas horas de trabalho e pressão intensa, o que desencoraja muitos de buscar esses papéis. Essa visão é reforçada pelo contato direto ou indireto com líderes sobrecarregados e estressados.
- Cultura do trabalho tóxico: o testemunho dos efeitos negativos de uma cultura de trabalho competitiva e de alta pressão incentivou muitos jovens a buscar alternativas que ofereçam um caminho menos estressante para o sucesso.
- Desejo por significado e propósito: além disso, há uma tendência dessa geração em buscar significado e propósito em suas carreiras, buscando trabalhos que não só pagam as contas, mas que também são significativos e alinhados com seus valores pessoais.
- Mudanças induzidas pela pandemia: a pandemia de Covid-19 acelerou algumas dessas tendências, como o trabalho remoto, que proporcionou aos jovens uma nova perspectiva sobre o que poderia ser uma vida profissional ideal, reforçando o desejo por flexibilidade e reavaliação das prioridades de carreira.
Esses fatores juntos levaram ao surgimento da quiet ambition, uma abordagem mais introspectiva e personalizada ao sucesso profissional, que prioriza a qualidade de vida e a satisfação pessoal em vez de uma ascensão ininterrupta no organograma corporativo.
Como a quiet ambition pode impactar a sua empresa?
A tendência da quiet ambition pode ter vários impactos nas empresas, influenciando desde a cultura organizacional até a produtividade da equipe e as estratégias de gestão de talentos.
Confira alguns dos principais efeitos que essa mudança de mentalidade pode trazer!
Mudanças na cultura organizacional
A quiet ambition pode levar a uma cultura de trabalho mais equilibrada e menos centrada em horas excessivas e trabalho sob pressão.
Essa mudança pode melhorar o bem-estar geral e a satisfação no trabalho, mas também pode desafiar as normas existentes em ambientes altamente competitivos e orientados a resultados.
Desafios no planejamento de sucessão
Com menos funcionários interessados em cargos de liderança tradicionais, as empresas podem enfrentar dificuldades em manter uma pipeline de sucessão saudável.
Isso pode resultar em um déficit de líderes qualificados no futuro, exigindo que o RH repense como identificar e preparar potenciais líderes.
Necessidade de flexibilidade e personalização
Com a crescente valorização do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, as empresas devem adaptar-se oferecendo maior flexibilidade nos horários de trabalho, mais opções de trabalho remoto e políticas de folga mais generosas.
Essas mudanças são essenciais para se adequar ao futuro do trabalho, além de atrair e manter talentos que priorizam esses aspectos em suas vidas profissionais.
Impacto na produtividade
Enquanto a quiet ambition pode contribuir para uma força de trabalho mais satisfeita e mentalmente saudável, também há o risco de que diminua a disposição dos funcionários para assumir projetos grandes ou desafiadores. Isso pode afetar negativamente a inovação e a produtividade dentro da empresa.
Para evitar esses problemas, é crucial que os gestores incentivem a participação em tais projetos de maneira que alinhe com os valores e expectativas dos empregados, mantendo a motivação e fomentando um ambiente criativo e produtivo.
Redefinição de liderança
As empresas podem precisar redefinir o que significa ser um líder, valorizando soft skills como empatia, suporte e capacidade de inspirar sem a necessidade de controle direto ou autoridade formal.
Isso pode levar ao desenvolvimento de um novo estilo de liderança que seja mais colaborativo e menos hierárquico.
Enfoque em desenvolvimento horizontal
Em vez de promover sempre verticalmente, as empresas podem precisar fortalecer as oportunidades de crescimento horizontal, permitindo que os funcionários expandam suas habilidades em diferentes áreas sem necessariamente subir na hierarquia.
Esses impactos mostram que, embora a quiet ambition possa apresentar desafios, também oferece oportunidades para as empresas criarem ambientes de trabalho mais sustentáveis e humanizados, que podem, por fim, levar a maior retenção de talentos e melhor desempenho organizacional a longo prazo.
Como identificar profissionais com quiet ambition dentro da equipe?
Identificar profissionais com quiet ambition dentro de uma equipe pode exigir uma percepção maior de sutilezas, pois muitas vezes essas características não são explicitamente declaradas.
No entanto, aqui estão algumas estratégias que o RH e os gestores podem usar para mapear esses profissionais em seus times:
- Observar o comportamento: profissionais com quiet ambition podem não se destacar por buscar ativamente promoções ou posições de liderança. Eles podem ser mais focados em suas tarefas atuais, mostrando dedicação ao trabalho sem necessariamente aspirar a cargos mais altos.
- Praticar a escuta ativa em avaliações de desempenho: durante as avaliações de desempenho, preste atenção nas expressões dos funcionários sobre suas carreiras. Aqueles com quiet ambition podem falar mais sobre alcançar equilíbrio pessoal, aprimorar habilidades específicas ou contribuir de maneiras que não necessariamente incluem liderança tradicional.
- Buscar feedback de colegas e supervisores: colegas e supervisores podem fornecer insights sobre a abordagem de um funcionário ao trabalho. Aqueles com quiet ambition podem ser reconhecidos por seu trabalho consistente, colaboração e contribuição tranquila, mas significativa, sem buscar holofotes.
- Focar em discussões sobre planos de carreira: em conversas sobre planos de carreira, pergunte sobre interesses e metas de longo prazo. Profissionais com quiet ambition podem expressar interesse em papéis que ofereçam satisfação pessoal, oportunidades de aprendizado contínuo ou que permitam um impacto direto sem a necessidade de gestão de equipes.
- Analisar iniciativas e projetos: observe a natureza dos projetos que os funcionários escolhem ou sugerem. Aqueles com quiet ambition muitas vezes optam por projetos que melhoram processos, inovam ou resolvem problemas de forma eficaz, mas que não necessariamente os colocam em uma posição de liderança visível.
- Perceber a preferências por autonomia e flexibilidade: muitas vezes, esses profissionais valorizam altamente a autonomia no trabalho e a flexibilidade das condições de trabalho, em vez de buscar cargos de maior status.
- Compreender as motivações pessoais e profissionais: em conversas formais ou informais, tente entender o que realmente motiva cada membro da equipe. Aqueles com quiet ambition tendem a priorizar fatores pessoais, como bem-estar e realização pessoal, sobre progressão de carreira tradicional.
Entender esses sinais e ter empatia nas interações pode ajudar os líderes a identificar e apoiar efetivamente os profissionais com quiet ambition, garantindo que todos na equipe se sintam valorizados e motivados, independentemente de suas aspirações de carreira.
E como lidar?
Notou que a quiet ambition está mais presente entre os quadros da sua empresa? Veja, a seguir, algumas estratégias para lidar com essa tendência:
- Planejamento de sucessão: com menos funcionários interessados em seguir o caminho tradicional de liderança, o RH enfrenta desafios no planejamento de sucessão. Isso requer um novo olhar sobre como identificar e preparar futuros líderes, possivelmente redefinindo o que significa ser um líder dentro da organização.
- Reformulação dos caminhos de carreira: o RH precisa reconhecer que nem todos os funcionários aspiram a cargos de liderança tradicionais. Isso implica desenvolver e valorizar trajetórias de carreira alternativas que não se concentrem exclusivamente em promoções verticais, mas que também ofereçam oportunidades de crescimento lateral, especialização e gestão de projetos.
- Enfoque em bem-estar e equilíbrio: a quiet ambition coloca um forte enfoque na saúde mental e no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. O RH deve criar e manter uma cultura de trabalho que priorize o bem-estar dos funcionários, incluindo políticas de trabalho flexíveis, suporte à saúde mental, e uma cultura que desencoraje longas horas de trabalho desnecessárias.
- Adaptação das estratégias de engajamento: as motivações dos funcionários estão mudando, com um enfoque menor em avanço tradicional e maior em satisfação pessoal e realização. O RH precisa adaptar suas estratégias de engajamento para reconhecer e recompensar uma variedade mais ampla de contribuições e sucessos, não apenas promoções.
- Desenvolvimento de liderança adaptado a esse novo momento: para aqueles que ainda aspiram a posições de liderança, o RH deve garantir que o treinamento e desenvolvimento de liderança sejam alinhados com valores de liderança humanizada, suporte e bem-estar, tanto para líderes quanto para suas equipes.
- Feedback e comunicação: ouvir ativamente e entender as aspirações de carreira individuais se torna ainda mais crucial. O RH deve praticar uma escuta ativa para entender verdadeiramente as expectativas dos funcionários e adaptar suas possibilidades profissionais a essas necessidades.
Em suma, a quiet ambition força o RH a repensar muitos dos seus métodos tradicionais e a adotar uma abordagem mais personalizada e humanizada para a gestão de pessoas, alinhando as práticas de trabalho com as mudanças nas expectativas dos funcionários.
Adaptar-se a essa tendência não só ajuda a manter uma força de trabalho satisfeita e produtiva, mas também prepara a organização para um futuro em que o equilíbrio e o bem-estar são valorizados tanto quanto o sucesso profissional.
Para líderes e gestores que buscam navegar efetivamente por essa nova realidade, é essencial compreender diferentes estilos de liderança e aprender a delegar de maneira mais dinâmica e eficaz.
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